Existe luz no final do túnel - Táticas (testadas cientificamente) para fazer as crianças desligarem os eletrônicos.

15JUL

Existe luz no final do túnel - Táticas (testadas cientificamente) para fazer as crianças desligarem os eletrônicos.

Dar um aviso de “cinco minutos” ou “dez minutos” às crianças antes de desligar tablets, TVs, vídeo games ou outros dispositivos eletrônicos dificulta a transição para outras atividades. A conclusão é de um trabalho realizado por pesquisadores da Universidade de Washington. O resultado surpreendeu até os cientistas, que acompanharam o dia-a-dia de 27 famílias com filhos entre 1 e 5 anos ao longo de duas semanas.

Além de entrevistas com os pais, foram coletados também vídeos das interações das crianças com as telas. A estratégia de dar um aviso - como “só mais um vídeo” ou “o tempo combinado acaba daqui a dois minutos” - antes desligar o aparelho eletrônico foi usada por 21 dos 27 pais. Apenas cinco participantes afirmaram que viam um efeito positivo. Para o restante dos casos, os pesquisadores concluíram que, depois de usar a técnica, as crianças ofereceram mais resistência na hora de interromper a atividade.

As estratégias que funcionam
De acordo com o estudo, as interrupções feitas por hábitos da rotina, como ter de parar de ver TV para almoçar ou desligar o jogo porque chegou a hora do banho, obtiveram resultados melhores na hora da transição. As crianças quase não demonstraram resistência na hora de seguir um cronograma ao qual já estavam acostumadas. Onze pais conseguiram aplicar a técnica e foram bem-sucedidos.

Outra estratégia que se provou eficiente foi uma pausa oferecida pela própria tecnologia, como o fim de um vídeo ou o descarregamento da bateria do celular. 20 dos 27 pais reconheceram que quando os dispositivos oferecem esses momentos de transição naturais, as crianças reagem melhor do que se estivessem obedecendo apenas a uma ordem dos adultos.

No entanto, se a transição tecnológica não ocorre naturalmente, e os pais forçam uma situação dizendo que o aparelho está com um problema de funcionamento ou que o programa favorito da criança não está mais disponível no computador, o efeito pode ser o oposto do planejado.

Segundo o neuropediatra Christian Muller, do Departamento de Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os pais precisam manter a autoridade sem mentir. “Os adultos podem e devem explicar para as crianças o motivo e a importância das regras, mas é preciso se manter firme, sem inventar desculpas, na hora de aplicá-las”, afirma Muller. “Afinal, é uma relação de confiança”.

Por que as crianças desligam as telas?
Na pesquisa, o motivo mais comum que levou as crianças a desligarem os aparelhos eletrônicos (39% das vezes) foi uma mudança na situação que tornou impossível continuar em frente à tela, como precisar ir para a escola. O segundo motivo mais comum (25%) foi a criança perder o interesse, o que é o oposto da percepção dos pais. Os adultos relataram que isso ocorre muito raramente. Outras razões para desligar as telas foram ordem dos pais (15%), fim de um jogo ou vídeo (11%) e fim do horário combinado previamente (9%).

Do ponto de vista dos pais, 59% responderam que os filhos tinham uma reação neutra na hora de desligar a tela, 19% declararam que as transições foram seguidas por reações positivas das crianças e 22% afirmaram que os filhos reagiram mal quando os aparelhos foram desligados.

Para a especialista em dispositivos eletrônicos Julie Kientz, uma das autoras do estudo, os pais têm dificuldade de reconhecer que a maioria desses momentos de transição acontece de forma suave. “O problema é: se de cinco experiências, uma for muito desagradável, os pais ficam preocupados e se preparam para ter que enfrentar aquilo mais vezes, o que atrapalha na percepção do que realmente está acontecendo”, escreveu, em uma nota divulgada pela Universidade.

Faça o que eu digo, mas não faça o que faço
Outro estudo sobre a relação entre uso de dispositivos e crianças mostrou que dois terços dos pais acreditam que as mídias sócias são ruins para seus filhos, mas eles próprios fazem uso frequente delas. A pesquisa foi feita na Universidade Metropolitana de Manchester e ouviu 107 pais.

Para a psicóloga Sylvia van Enck Meira essa diferença entre o que os adultos dizem e fazem é um problema. “Os pais são modelos de referência dos filhos nos primeiros estágios do desenvolvimento, portanto é fundamental que, deixem de lado seus aparelhos quando estiverem com os filhos”, afirma Sylvia. Isso quer dizer que dar o exemplo continua sendo fundamental.

Fonte: www.revistacrescer.globo.com